#5 - Mês do Orgulho LGBTQIA+
Junho é o mês da visibilidade e da celebração do orgulho LGBTQIA+ e, sendo, acima de tudo, uma oportunidade para a celebração da expressão e liberdade individual, esta não vem sem os seus custos para a comunidade LGBTQIA+. É neste sentido que se alia a esta celebração a ideia de luta continuada para que a liberdade seja um direito universal.
É facto que ao longo do nosso desenvolvimento, deparamo-nos com alguns desafios normativos (por exemplo, as transições entre infância, adolescência, idade adulta) ou não normativos (como acidentes, desemprego, separação, morte, etc.) e é ao lidar com esses desafios que nos vamos construindo enquanto pessoas, com um conjunto de valores e experiências específicos.
O Modelo de Stress Minoritário
Ilan Meyer (2003) propõe um modelo do stress minoritário em que considera que para além de processos de stress gerais que podem influenciar a vida de qualquer pessoa (como os mencionados acima), membros de grupos minoritários estão ainda sujeitos a processos de stress específicos relacionados com a sua pertença a esses grupos. Na base do conceito de stress minoritário está a consideração de que estes processos de stress são únicos (ou seja, não são experienciados por membros de grupos não estigmatizados), crónicos (ou seja, relativamente estáveis) e de base social (isto é, que decorrem de processos sociais, instituições e estruturas que vão para além do indivíduo).
O modelo de Meyer evidencia as dificuldades acrescidas que estas pessoas encontram ao longo da sua vida ao desenvolverem-se num mundo onde não pertencem aos grupos dominantes e classifica ainda os processos de stress minoritário num contínuo de distais a proximais. Processos de stress distais são eventos objetivos – preconceito, efetivado na forma de discriminação ou violência – e processos de stress proximais são subjetivos e baseados nas perceções e avaliações individuais desses eventos, por exemplo, a expectativa de rejeição e, consequente, estado de vigilância que a vivência desses eventos gera no indivíduo.
A Terapia como apoio à comunidade LGBTQIA+
Vários podem ser os motivos que levam membros desta comunidade a pedir ajuda terapêutica, mas é essencial considerar o contexto em que estão inseridos e os desafios específicos que dele emergem. O estigma e preconceito de que são alvo podem ter consequências na forma como o indivíduo se vê a si, aos outros e ao mundo, como gere as suas emoções, como se comporta, como constrói a sua identidade. Para que estas tarefas sejam efetuadas com sucesso e a identidade integrada de forma saudável, osmembros da comunidade LGBTQIA+ estão perante o desafio adicional de negociar as suas diferenças, adaptando-se a um mundo onde, inúmeras vezes, não são reconhecidos nem aceites.
Em terapia, encontramos um contexto privilegiado para trabalhar com estas pessoas fatores que contribuam para o seu bem-estar e resiliência, como o autoconhecimento, a autoaceitação, a criação e/ou promoção de uma rede de apoio (também ela fonte de aceitação), a aproximação à comunidade e promoção da sensação de pertença, o desenvolvimento de mecanismos de coping para lidar com o estigma. Com esta responsabilidade, os terapeutas devem proporcionar a estas pessoas um lugar seguro onde possam expressar as suas diferenças e dúvidas e, assim, pensar sobre si, elaborar sobre o mundo e fazer melhores escolhas para as suas vidas, livres das pressões que encontram diariamente em tantos contextos.
Por Joana David