#7 - Autocompaixão
Enquanto escrevia este texto, não pude deixar de notar que a palavra "autocompaixão" aparecia sublinhada pelo corretor ortográfico. Fiquei intrigada e, sem refletir muito, cliquei no rato para perceber qual era o erro. Não apareceu nenhuma sugestão de sinónimo, por isso tentei escrever a palavra de forma diferente, como "auto- compaixão", mas mesmo assim continuou a aparecer como erro. Percebi que não era eu que estava a escrever mal a palavra, mas sim o programa que não a reconhecia. Escrevi então apenas “compaixão” e nesse caso já não aparecia como erro. O fato de o processador de texto não reconhecer a palavra "autocompaixão", mas reconhecer a palavra “compaixão”, lembrou-me que também nós estamos acostumados e familiarizados a ser gentis com os outros, mas estamos pouco habituados a faze-lo connosco.
Quantas vezes, face a um engano ou inadequação temos diálogos internos, duros e críticos? Quantas vezes, nesses momentos, dizemo-nos coisas que jamais diríamos a outras pessoas? Temos tendência a julgarmo-nos, sendo excessivamente duros e implacáveis connosco. Este autocriticismo, muitas das vezes aceite e estimulado pela sociedade, não nos favorece, pelo contrário, conduz a um ciclo depreciativo, que prejudica o nosso bem-estar.
A Autocompaixão segundo Kristin Neff
Segundo Kristin Neff (2021), especialista mundial nesta área, ter autocompaixão passa por aceitar, respeitar e tratarmo-nos como trataríamos alguém que amamos, mesmo nos momentos que sentimos que falhamos. Alias, é precisamente nesses momentos, em que sentimos que erramos, que mais precisamos de ter uma atitude bondosa e compreensiva. Enquanto seres humanos, todos nós erramos, faz parte da nossa natureza. Efetivamente, todos nós temos limitações e defeitos. Nem sempre temos comportamentos de que nos orgulhamos ou em que somos bem-sucedidos e isso é natural. No entanto, ter uma atitude compassiva, não é sinonimo de desresponsabilização, pelo contrário, é uma atitude de abertura à mudança, perguntando-nos, de forma gentil, “de que forma eu me posso ajudar?” tal como dizemos a uma pessoa que está em sofrimento “como te posso ajudar?” Para tal, é necessário estar consciente dos nossos sentimentos e emoções. Eles são importantes, merecem a nossa atenção, tempo e consideração.
Em suma, tal como o corretor ortográfico, também nós enquanto sociedade devemos reconhecer a importância da autocompaixão, cultivando essa atitude. Muitas vezes parece que nos é fornecida a ideia de que é egoísta preocuparmo-nos connosco. Isso não é verdade. Ao cuidarmos mais de nós, melhoramos também a nossa relação com os outros. Acredito que é importante que comecemos a incluir o conceito da autocompaixão no nosso vocabulário, tornando tangíveis e acessíveis ideias como autocuidado, gentiliza e amor próprio.
Por Patrícia Benito