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#9 - Sexualidade no feminino, na meia-idade

Sexualidade no feminino, na meia-idade
Sexualidade no feminino, na meia-idade

 

No último Censo que se realizou em Portugal em 2021, a população feminina com mais de 45 anos, somou 2 854 246 o que representa mais de metade das mulheres portuguesas (52,5%), para as quais as questões relacionadas com o bem-estar e a qualidade de vida na meia-idade (45 a 65 anos), e idade avançada (mais de 65 anos), se tornam especialmente significativas.

 

A saúde sexual é uma componente essencial de uma vida saudável, muitas vezes negligenciada, e que surge frequentemente diminuída na meia-idade, muito marcada pela menopausa, sem que os fatores que para tal contribuem sejam completamente compreendidos e valorizados. Será que, por exemplo, a idade, os sintomas vasomotores (afrontamentos), ou o estilo de vida predizem o funcionamento sexual feminino na meia-idade? Podemos, ou não, melhorar a vida das mulheres nesta fase, promovendo uma melhor saúde sexual através de um investimento em alguns destes preditores?

 

Durante muitos anos a sexualidade feminina foi abordada como uma extrapolação da sexualidade masculina o que condicionou a sua compreensão até ao nível dos modelos explicativos da resposta sexual. 

 

O que é Disfunção Sexual?

Considera-se que existe disfunção sexual quando existe perturbação de: desejo, excitação, orgasmo ou quando existe dor, durante mais de seis meses e com sofrimento associado. Mas saúde sexual não é sinónimo de ausência de disfunção sexual. A sexualidade emerge no corpo, como tantos outros fenómenos humanos, e desdobra-se numa pluralidade de paisagens mentais, relações sociais e âmbitos culturais podendo ser significativamente perturbada se a capacidade de responder sexualmente ou experienciar o prazer sexual se encontram prejudicados. 

 

As mulheres, ao vivenciarem ao longo do ciclo de vida inúmeras alterações, veem a sua sexualidade afetada por uma miríade de determinantes fisiológicos e psicossociais, que se combinam em equações multivariadas que urge compreender. A existência de uma relação afetiva-sexual é hoje apontada como um factor protetor do bom funcionamento sexual feminino na meia-idade (Leal, 2020). Apesar de nesta fase do ciclo de vida predominarem as relações de longa duração (mais de 10 anos) cuja familiaridade do convívio poderia, como indicam alguns estudos, condicionar as fantasias e o desejo e justificar uma pior qualidade da vida sexual, o que se observa é, tendencialmente, o oposto. 

 

Boa comunicação e intimidade 

Pensa-se que os casais que permanecem juntos mais anos, talvez por se conhecerem melhor, experienciam uma maior qualidade na relação, quer no que diz respeito por exemplo à capacidade de estimular adequadamente a parceira, fator que Carvalheira, Broto e Leal (2010) destacam como essencial para a satisfação com a interação sexual, quer devido a uma boa comunicação na intimidade, que surge como protetor face à disfunção sexual. Por outro lado, uma ausência de problemas psicológicos, menor gravidade de sintomas de menopausa, sobretudo ao nível dos sintomas vasomotores e do desconforto e secura vaginal, são preditores de um melhor funcionamento sexual feminino (Leal, 2020). 

 

Promover o bem-estar passa obrigatoriamente por trazer para a conversação, sobretudo em contexto de saúde, a função sexual feminina, explorando com a mulher as suas vivências, já que há dimensões que podem ser alvos importantes no processo de intervenção.

 

Autor: Ana Borgas Leal

 

 

Carvalheira, A. A., Brotto, L. A., & Leal, I. (2010). Women’s motivations for sex: Exploring the diagnostic and statistical manual, fourth edition, text revision criteria for hypoactive sexual desire and female sexual arousal disorders. Journal of Sexual Medicine, 7, 1454–1463. https://doi.org/10.1111/j.1743-6109.2009.01693.x

Leal, A. B. (2020). Funcionamento sexual feminino na meia idade: proposta de um modelo. Tese de Mestrado. ISPA.